terça-feira, 22 de março de 2016

A CRISE POLITICA VIVIDA PELO BRASIL NO OLHAR DE OUTROS PAÍSES

MATERIA  DA  INTERNET

A crise política no Brasil pelo olhar estrangeiro

Principais jornais do mundo tentam explicar as reviravoltas da política brasileira e retratar os interesses em jogo.

Foi com espanto que os principais jornais do mundo viram os desdobramentos da crise política brasileira na última semana. "Não fosse Síria, migração, referendo da Grã-Bretanha e Donald Trump, o Brasil dominaria as manchetes globais", resumiu o jornal britânico Financial Times. As publicações retrataram o convite feito pela presidente Dilma Rousseff para que o ex-presidente Lula assumisse a Casa Civil e a divulgação de conversas telefônicas de integrantes do governo.
As publicações mostram a relação conflituosa de Dilma com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e com seu vice, Michel Temer. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) é citado entre os alvos do escândalo, e o juiz Sergio Moro é apresentado como "idealista" e "herói das manifestações", mas tem sua isenção questionada por ter quebrado o sigilo das escutas do ex-presidente.
The Guardian

O jornal britânico afirma que Dilma deveria convocar eleições ou renunciar para evitar aprofundamento da crise. Para a publicação, "esses protestos, se não controlados, podem resultar em violência generalizada com risco de intervenção militar". O jornal ressalta tentativa de acelerar o impeachment no Congresso, instituição apresentada como "sem ideologia", na qual parlamentares "mudam de lado conforme a necessidade." Na visão do jornal, os protestos contra o governo continuam a ser dominados por brancos da classe média alta do Brasil.

Financial Times
O diário britânico chama a situa­ção do Brasil de "tragédia potencialmente perigosa" e alerta que a polarização política pode minar ainda mais a história de sucesso de anos atrás. O jornal ressalta que o discurso do governo e da oposição disfarça interesses escusos e que o zika vírus, transmitido por um mosquito, adicionou um toque bíblico a esta "confusão demoníaca". Para o FT, o principal desafio para Dilma e Lula é o Judiciário, que é elogiado por ter apresentado maior disposição em investigar políticos corruptos e seus parceiros de negócios.
Diário de Notícias
A mais tradicional publicação portuguesa destaca que o sistema político brasileiro, com 30 partidos e 26 Estados, torna o país ingovernável e que isso é o ponto de partida para a corrupção na esfera pública. "Tudo no país conspira para a ingovernabilidade", diz uma das reportagens. Mensalão e Lava-Jato, na opinião do jornal, são escândalos semelhantes, já que ambos serviram para aumentar a base de apoio do governo no Congresso. O diário destaca ainda o rápido crescimento do percentual da população que apoia o impeachment da presidente.
The Washington Post
O diário norte-americano dá destaque ao impasse entre Judiciário e Executivo e afirma que o escândalo ameaça engolir Lula e Dilma, "dois dos líderes mais poderosos do Brasil." A publicação afirma que a tentativa de nomear Lula como ministro é mais uma reviravolta dramática da Lava-Jato e ressalta que, entre os citados nas delações premiadas, também está o líder da oposição, Aécio Neves. A publicação aponta que o juiz Sergio Moro, apesar de estar realizando um "bom trabalho", agiu ilegalmente ao liberar escutas telefônicas do ex-presidente Lula.
The New York Times
Em cobertura crítica a Dilma, a publicação norte-americana chama de "surda" e "rídicula" a justificativa da presidente para convidar Lula para a Casa Civil. Para o NYT, a nomeação seria uma tentativa de dar foro privilegiado ao político. Em uma das reportagens, é apresentada a linha sucessória do governo. A lista mostra que o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-­RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), são acusados de corrupção. O texto aponta que Aécio Neves também está envolvido no escândalo.
The Economist
A revista britânica dá destaque para o confronto entre o governo e o Judiciário e ao papel do PMDB na sobrevivência do governo. "O PMDB vai, como é seu costume, seguir a opinião pública", diz a revista. Para a publicação, a liberação das escutas torna a disputa entre os poderes "implacável". O grampo "parece sustentar a tese de que Dilma tentou proteger Lula". Em relação a Sergio Moro, The Economist diz que, apesar da "sua perseguição obstinada à corrupção", tomou atitudes que podem ter ido longe demais e que, por isso, tem sido criticado.
The Wall Street Journal
O principal jornal de economia dos Estados Unidos escreveu sobre o impeachment de Dilma e ressaltou as medidas adotadas por Eduardo Cunha para dar agilidade ao rito. Na visão da publicação, apesar de o ex-presidente Lula negar qualquer envolvimento no escândalo, a indicação para a Casa Civil foi uma tentativa para blindá-lo de possíveis acusações e que ele, dificilmente, conseguirá escapar de uma denúncia criminal. O convite para Lula integrar o governo foi interpretado como "última cartada" da presidente, uma estratégia "certa na hora errada."
El País
Ao tratar da divulgação das escutas de Lula, o jornal espanhol demonstrou preocupação em relação às próximas semanas. Para a publicação, nada indica que o "frenesi enlouquecedor da última semana vai parar". Outro tema abordado foi a manifestação do dia 13, chamada pelo jornal de a "maior reunião política na história democrática do Brasil, organizada por forças da oposição". O El País ressaltou a relação conflituosa entre o governo petista e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a posse de Lula na Casa Civil.
Die Zeit
O título de um artigo expõe a visão do jornal alemão sobre a crise: "Brasil – todos contra todos, ninguém pelo povo". Para a publicação, o país experimenta intrigas dignas de séries de televisão como House of Cards. Lula é descrito como "velho combatente do movimento sindical" chamado por Dilma para tentar contornar a crise. O texto aponta a divulgação dos áudios como um possível "ato de vingança" de Sergio Moro contra a nomeação do ex-presidente. Para o Die Zeit, o sistema político brasileiro perdeu a credibilidade quase por completo.

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